QUERIDO ZÉ - UMA CARTA CHEIA DE AMOR E DE ESPERANÇA
Belo
Horizonte, 06 de fevereiro de 2023.
Querido
Zé,
Meu
caro amigo, volto a lhe escrever depois de tanto tempo. Nossa última missiva
foi em 2020, auge da pandemia de Covid19 e da nossa desesperança aqui nessas Terras
Brasilis, lembra?
Compadre,
como lhe disse em outra carta, não foi fácil sobreviver no Brasil, nesses
últimos 4 anos, sabe? Se pra você foi complicado assistir aí da Ásia todo o
caos e destruição aqui instalados, pode imaginar como não foi para nós sobrevivermos
em meios aos escombros em que o Brasil se transformou.
Em
nossas ruas víamos a concretização dos versos de Chico Buarque, na música Apesar
de você: “A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão.” Uma desolação total.
Foi
muito doído ver gente que era do nosso convívio, pessoas que frequentavam nossas
casas, pessoas que tinham trânsito livre em nossos corações e mentes, em quase êxtase ao
proferirem seus repetitivos discursos de ódio, suas mais explícitas
demonstrações de racismo, o endosso à misoginia e à homofobia; ao extermínio das minorias, à
exclusão de nossos iguais. Viraram verdadeiros estranhos! Isso, ainda hoje, é o que mais me dói.
Nesse
caso, meu amigo, nem posso dizer que a minha dor seja apenas culpa desses ex. amigos. Eu sempre os enxerguei com afeto, sem saber que guardavam em si tanto preconceito, ódio e desespero. Cabe
a mim a maior parte da culpa. Entretanto, esse reconhecimento não tira de mim a dor de ter me equivocado e, principalmente, de perdê-los de minha vida, de modo
tão definitivo. Eu não creio que haja caminho de volta. Quebrou a confiança. Quebrou a espontaneidade das conversas. Não
há possibilidade de reencontro sem um enorme desconforto.
E
eu lhe confesso que o fedor da podridão emersa das entranhas desse país, pós-golpe
de 2016, ainda resvala pelas cidades e, em especial, nas redes sociais.
Pois bem, meu colega, ficamos muito mal por muito tempo. Mas agora, desde que o novo governo subiu a rampa do Planalto, já estamos melhorando os ânimos e eu até já reencontrei os motivos que alimentavam o meu deslumbre com esse nosso país e com parte muito considerável de nós.
Não me esqueço de que sempre fui alvo
de suas críticas, a ponto de comparar meu amor pelo Brasil àquele da música “Exagerado”,
do Cazuza, lembra? E eu nem ligo. Nesse quesito, além de Cazuza, valho-me dos versos de Caymi nos versos da "Modinha para Gabriela": "Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim"... quando se trata do meu amor a nossa gente!.
Eu
vou lhe confidenciar o motivo da retomada dessa admiração profunda para com
nosso povo: nesse fim de semana, a minha filha me deu de presente o livro “Querido
Lula. Cartas a um presidente na prisão”. Esse mesmo livro que lhe envio
junto com essa carta.
Rapaz... Você não tem a dimensão do que é esse
livro. Do que são essas cartas. Eu lhe juro, jamais imaginei que um simples
livro pudesse transbordar tanto amor. É como se cada palavra fosse escrita em um
tipo de papel, cuja matéria prima não fosse a celulose, mas o mais genuíno
afeto. É como se cada carta viesse com um abraço depois do ponto final.
Gente
que estava solitária, com histórias de vida sofrida, de uma vida de muita luta e que ainda
trazia feridas na carne das batalhas diárias, mas que encontraram forças e doçura para tentar aliviar o sofrimento do único
presidente que as enxergou. Ou mais que isso, olhou para elas com olhos amorosos. Justo ele, o presidente que foi injustamente
preso, a fim de que o golpe jurídico e midiático pudesse se concretizar. Pessoas que
só queriam dar amor e aconchego ao presidente. E deram. E foi tanto amor! E foi tão lindo!
De fato, nesse mundo não há nada mais revolucionário que o amor e a gratidão. Esse livro comprova isso.
Ali estão
relatos de pais, filhos, irmãos, amigos, professores, gente do Brasil, a quem
sempre coube o papel de trabalhador braçal, de subserviência, de invisibilidade...
que conseguiu alguma ascensão social, visibilidade, reconhecimento ou que se fez testemunha, quando o Estado, por
meio dos governos de Lula e Dilma, abriu as portas da oportunidade aos excluídos. Oportunidades que eles agarraram com unhas, dentes, trabalho incansável e muito, muito amor. É uma
avalanche de emoções múltiplas. Todas muito positivas, sem qualquer exceção.
Imagine que até uma torcedora do São Paulo revelou ter se alegrado com a vitória do Corinthians, que havia derrotado o seu time do coração na final do campeonato. Diz ela em uma das cartas: "Meu presidente está feliz. Isso é o que conta hoje." Não é lindo, amigo? Me derreti em lágrimas com essa e outras histórias tão emocionantes quanto...
Foi por meio desses relatos que eu tive a noção exata da dimensão desse homem chamado Luiz Inácio Lula da Silva. Mais que isso, senti muito dó daqueles que ainda não conseguem compreender o tamanho dessa personalidade histórica. Senti pena daqueles que não conseguiram tirar dos olhos as vendas intransponíveis que o preconceito e o ódio de classe lhes impuseram. Dos que não conseguem compreender a importância desse momento histórico que estamos tendo o privilégio de viver.
Ah... Não pense que virei uma fanática, que tem em Lula um ser humano perfeito, sem falhas. Não
se preocupe. Não vejo Lula como um semideus, um mito (Deus nos livre) ou um
super humano/herói. Ao contrário, vejo-o como um ser humano que não se furta a
exercer sua humanidade doa a quem doer. Seja na presença de reis, rainhas,
líderes mundiais ou do povo suado recém-saído do trabalho cotidiano, que vem lhe abraçar sem cerimônias.
Mas
aquela parcela de nossa gente que é sensível e amorosa, até os estrangeiros desacostumados às
manifestações de afeto (especialmente vindas de um político) e quase todos os brasileiros invisibilizados pela empáfia de uma parcela ignóbil e cafona das nossas classes médias e pelo desprezo das elites escravocratas nacionais, todos souberam enxergar nele esse ser humano
inundado de humanidade. Coisa rara em nossos tempos de discursos vazios e
falsas aparências.
Pois é... E não é que eu passei a madrugada de sábado para domingo lendo o livro? Lendo não, degustando cada carta, cada palavra ali estampada e chorando copiosamente. Não conseguia parar! Ali, naquelas páginas eu reencontrei meu deslumbramento pelo Brasil e realimentei, de modo vigoroso, a minha esperança em nosso futuro. Sabe por quê? Porque creio que qualquer outro país que tivesse meia dúzia de pessoas com esse exagero de amor para compartir já seria um país diferenciado entre todos os outros e estaria destinado à todo tipo de prosperidade e de evolução. Não tenho uma nesga de dúvida disso.
Ocorre que nós não temos meia dúzia de pessoas amorosas. Nós temos alguns milhões
de brasileiros com essa colossal capacidade de amar.
Volte
logo, companheiro! Venha para comemorarmos juntos o nosso definitivo renascer das cinzas. Como cantou o Beto Guedes e eu lhe disse em outra missiva: “Vamos precisar de todo mundo. Um
mais um é sempre mais que dois. Para construir a vida nova, vamos precisar de muito amor”. E amor é uma matéria prima que temos em abundância por aqui.
Um
abraço cheio de amor e saudades procê, meu companheiro.
Sigo
aguardando a sua volta.
Lindeza de texto! Eu também li as cartas e me emocionaram bastante!
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