QUEBRANDO A REGRA E BATENDO TAMBOR PRA MALUCO DANÇAR


Eu não escondo de ninguém que estou adorando e desfrutando muito a minha maturidade. Envelhecer está sendo libertador. Sim, é tudo verdade: o avançar da idade nos liberta da opinião que os outros têm de nós. E isso é revolucionário!

Vivo aquele tempo em que me dou o direito de escolher ir à festa com aquela sandália confortável e feia, no lugar daquele elegantíssimo salto agulha que certamente me impedirá de curtir o momento, lembrando-me, a cada segundo, que tenho pés e que eles estão sendo violentados pelo peso do meu corpo sobre aquela sandália frágil. Sinto como se, por vingança, as “delicadas” e caríssimas tiras do sapato optassem por torturar, machucar e sangrar meus pés. E não há "torturante band-aid no calcanhar" (como cantou João Bosco) que alivie a crueldade do calçado comprado com único objetivo de cumprir as exigências de um encontro que poderia ser muito mais feliz e agradável, não fosse o desconforto da indumentária.


Bom, quis dar esse exemplo para deixar claro algumas atitudes que estabeleci para o que resta de tempo em meu trânsito por esse planetinha. Há alguns anos decidi não perder tempo com o que considero desimportante ou que não me acrescenta em qualidade de vida, de assunto, de leitura, de pessoa... 

Explico-me: cada vez mais eu venho ignorando o que poderia me irritar e o que acho absurdo, invasivo, sem noção demais para que eu gaste o precioso tempo de vida que me resta, meus pensamentos e minha energia tentando entender, explicar e/ou dar ibope para o que não deveria ter importância.

Um exemplo? Há alguns anos, quando li, pela primeira vez um artigo de opinião do ítalo-brasileiro Diogo Mainardi, no qual ele falava muito mal da cultura nordestina (de que sou fã incondicional) fiquei com muita raiva, não porque ele tivesse opinião diversa da minha, mas por ele falar mal de algo que, de fato, não conhecia. Ainda li outro artigo dele com o mesmo deboche e desconhecimento sobre o Brasil e decidi não gastar meus neurônios com essa pessoa. Desde então, nunca mais li nada dele. Quando vi que ele ia fazer parte do Manhattan Connectionn parei de ver o programa. Nunca mais assisti. Hoje não tenho o que falar desse senhor. Nem bem nem mal. Não leio, não assisto e não falo sobre as “polêmicas” que, de acordo com alguns amigos ele cria, (a não ser nesse texto). Faço questão de não ter opinião formada sobre ele e seu trabalho. Quando surge algum assunto sobre o moço, me abstenho de qualquer comentário. Sigo o conselho da avó do Leandro Karnal: “não bato tambor pra maluco dançar”. Claro que reconheço a minha "desimportância" na vida desse moço e que minha atitude em nada alterou a vida dele. Não era essa a intenção, é claro. Não fiz isso por ele. Fiz por mim. E acho que me fiz um bem danado de grande.


Agora vejo a internet e as ruas com um monte de jovens reacionários lutando para censurar a arte. Até então não me posicionei. Não comentei posts de amigos (nem dos inimigos) sobre o assunto. 

Podem me perguntar:

- Não te assusta ver jovens (alguns com quem até convivi no meu passado como “fessora”) pedindo a volta da censura, da ditadura, das arbitrariedades?

- Sim. E me assusta porque, na minha ingenuidade e amor cego pelos meus ex. alunos que abrigam, entre eles, grupos que hoje se mostram muito mais retrógrados que o meu avó Thier, que era osso duro de roer nesse quesito, (rs). No entanto, me consola saber que não é a maioria, mas me preocupa.

Eu podia jurar que essa moçada, que foi criada podendo dialogar com pais e professores, reivindicar direitos, impor suas vontades dentro e fora das escolas por onde andei, JAMAIS aceitaria uma ditadura. Isso, em minha cabeça de #professoramaluquinhaapaixonadapormeusalunos  e minha vidinha de docente era simplesmente impossível. Mais que isso.

 Para a inocente professora idealista e esperançosa que fui, essa era a garantia de que a evolução do Brasil seria mais rápida do que imaginávamos e que, muito antes nos tornaríamos semelhantes às maiores e verdadeiras democracias mundiais (Pausa para orar para essa alma ingênua). Juro que eu conseguia ver até um Brasil sem racismo, sem homofobia, solidário... (Pausa para mais orações...) Tudo por “culpa” desses meus meninos e meninas que eu amei, amei, amei!!!

Agora vejo a galera do MBL, para quem vou bater meu tambor aqui, liderando os revoltados com as manifestações artísticas e, mais uma vez, conseguindo adeptos para defender seus interesses. 

Tenho que reconhecer que esse pessoal, liderado pelo Kim Kataguiri, é bom no que faz. Conseguiram convencer uma multidão da classe média brasileira, incluindo alguns com boa educação formal, de que era um grupo “apolítico” (pausa para as gargalhadas) e o povo acreditou piamente (pausa para  o choro convulsivo) e hoje ocupam cargos nas administrações tucanas, ganhando salários que, se fossem trabalhar no livre mercado que defendem, levariam algumas décadas para atingir. Além, é claro de elegerem alguns de seus membros como vereadores para a câmaras municipais. 

Levaram parte da ex. classe média a adorar um pato de borracha e ajudaram a transformar o que estava ruim, em algo muito pior, devolvendo parte dessa classe média à pobreza de antes. Agora, para não ter que falar do desastre produzido pela quadrilha que colocaram no poder, desviam-se do tema corrupção e de sua responsabilidade na manutenção de um governo repleto de criminosos, para respaldar as arbitrariedades e a volta da censura. Tudo jogo de cena! E os súditos do pato caíram de novo... (pausa maior para mais gargalhadas e choro simultâneos).

Assim como fiz com Mainardi, também me fiz indiferente aos arroubos do MBL, até esse texto. Não vou mais falar sobre essa gente. Não permitirei que matem o que resta da esperança que a maioria de meus ex. alunos me legaram. Certo. Pode apontar o dedo para mim e gritar que entrei no jogo deles com esse texto. Confirmo envergonhada e de cabeça abaixada pelo constrangimento. Mas prometo a mim mesma não tocar mais no assunto MBL, façam o que fizerem. Não lhes darei mais ibope do que esse meu humilde e insignificante artigo, que provavelmente terá nenhuma repercussão. Nem ligo. É a catarse a que me dou o direito no alvorecer na vida. Um desabafo.

Quanto às obras censuradas, não sei se elas despertariam o interesse de um público tão grande, caso os reaças não pedissem sua proibição. O meu não despertariam, mas com que direito eu decido que os outros não possam ver o que não me agrada? Isso é coisa de outro oriental de nome Kim. Nesse caso, o coreano Kin Jon-Un. Esse sabe manter seus súditos na linha e eu desconfio que o Kim tupiniquim vem tomando lições secretas com ele. Tiro no pé... Sabe como é... proibido é muito mais gostoso! 

Aos meus filhos e a quem mais possa interessar só um aviso: fiquem espertos com esses reaças. Eles começam assim, aos poucos... é como disse Brecht:


Depois não adianta chorar. Eu e Brecht avisamos! (Gargalhadas sarcásticas finais para a falta de noção da autora aqui nessa frase final).
E tenho o dito!














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