CARTA ABERTA AOS MEUS FILHOS, ALUNOS, SOBRINHOS E AOS JOVENS EM GERAL.

Meus amores,

Desde que sucessivos governos vêm falando sobre a necessidade de se fazer a reforma da Previdência Social venho perdendo o sono, preocupada com o futuro dos meus filhos e de vocês.

Quem me conhece, mesmo sem ter sido meu aluno, sabe o quanto eu amei a sala de aula e o quanto me dediquei aos meus alunos. Jamais trabalhei para o Pitágoras, para o Objetivo, para o Peixinho Dourado, para o Pequeno Polegar, para a Prefeitura de Itabirito ou para o Estado do Amapá. Sempre trabalhei para o meu aluno. Não sou e não fui a melhor professora do mundo, mas persegui essa meta em cada sala de aula em que estive.

Pois é. Hoje eu tenho 56 anos e estou aposentada como professora (desde janeiro de 2013). Mesmo depois de pagar mensalmente ao INSS por quase 30 anos, fui submetida ao fator previdenciário e, obviamente, tive significativa redução em meu salário.

Sei que alguns de vocês, (alguns com os quais eu já conversei sobre isso) concordam que 52 anos – a idade com que me aposentei – é cedo demais para “pendurar a chuteira”. E eu concordo com vocês. Eu escolhi ser professora e sempre me senti realizada em sala de aula. Tenho convicção de que eu tenho energia e entusiasmo para mais alguns anos de trabalho. 

Mas é aí que eu preciso alertá-los sobre a Reforma da Previdência: o mercado de trabalho se fecha depois que você passa dos 50 anos para a MAIORIA dos trabalhadores, especialmente para as mulheres. E isso independe da qualidade dos serviços prestados por essa maioria.

Fonte: http://blogdochicopereira.com/web/wp-content/uploads/2016/06/charge-aposentadoria.jpg (acesso 06 dez 2016)

A proposta do governo pretende aumentar a idade mínima para aposentadoria de homens e mulheres para 65 anos. Vejo a imprensa exaltar as mudanças e a necessidade de fazê-las, mas não vejo NENHUM jornalista fazer essa pergunta aos que propõem as mudanças: como fica a empregabilidade das pessoas mais velhas, aquelas que passaram dos 50 anos e que forem demitidas?

Sei que vocês são jovens e, quando se é jovem não se tem a exata dimensão da rapidez com que o tempo passa. Asseguro-lhes que somos levados da juventude à terceira idade num espaço de tempo, que parece um piscar de olhos. Portanto, não se iludam pensando que isso não lhes diz respeito e que falta tempo demais para se preocupar com o assunto. Não se iludam pensando que, com o passar dos anos as coisas podem mudar. Talvez mudem, mas há um preconceito grande em relação à idade. E preconceitos não são fáceis de erradicar.

Fonte: https://amarildocharge.files.wordpress.com/2016/09/blog8.jpg?w=640&h=464 (acesso 06 dez. 2016)

Em 2014, quando eu estava escrevendo o livro do 9º ano do Bernoulli, descobri em minhas pesquisas que há países europeus fazendo campanha para que suas empresas contratem pessoas com mais de 60 anos. Sim! Na Europa aonde o envelhecimento vem de longa data e que, por esse motivo, tais preconceitos etários já deveriam ter sido extintos, ainda se luta contra o desemprego das pessoas mais velhas que foram “expulsas” do mercado de trabalho, antes de completarem o tempo para a aposentadoria. Imagine em um país como o Brasil, que não consegue sequer empregar os jovens que precisam do primeiro emprego!

Fonte: http://aeroviarios.org.br/wp-content/uploads/2016/08/14012504_1284452978254121_1942504218_o.jpg (acesso 06 dez. 2016)

Sei que você pode estar pensando na Previdência Privada. Sim. É um bom caminho e eu recomendo como fonte complementar para seus rendimentos no futuro, mas antes, faça uma visita a “Muco, Museu da Corrupção” do Brasil e veja os inúmeros casos de falência de fundos de previdência, tanto privados quanto de empresas estatais, que enganaram milhares de brasileiros ao longo dos anos, deixando-os sem a tal complementação, depois de terem acreditado e investido por anos e anos nos tais fundos.

Essa é uma discussão que vocês meus filhos, meus ex. alunos, sobrinhos, amigos jovens que estão começando a vida adulta e ainda terão muito tempo até se aposentarem, precisam exigir que seja realizada pelas redes sociais e pela grande mídia do país.

Eu, Sílvia, mesmo sabendo que poderia estar no mercado de trabalho já estou aposentada e, bem ou mal, vou sobreviver. Afinal, já vivi mais da metade de minha vida, mas para vocês ainda há tempo de exigir respostas sobre a empregabilidade depois dos 55 anos. Perguntem: o que a sociedade e o governo pretendem fazer a respeito? 
Precisamos quebrar as barreiras do preconceito etário, mesmo porque, com ou sem déficit na Previdência Social, o governo vai fazer as alterações que pretende para serem cumpridas pela população em geral, obviamente, assegurando as gordas aposentadorias especiais da classe política, do judiciário e das Forças Armadas.
Ah, sim... E quanto a você que tem uma belíssima e poupuda herança e/ou empresa bem sucedida para receber de sua família? Bom, para você, o meu recado é outro. Desejo-lhe muita saúde, sorte e competência para administrar seu negócio e que você possa ajudar a romper com o preconceito etário no mercado de trabalho. Não deixe de empregar pessoas mais velhas. Será ótimo para os negócios a troca entre o idealismo dos jovens e a experiência dos idosos. Você só tem a ganhar e ainda vai contribuir para a construção de um mundo justo.

Reflitam sobre isso, por favor. Não deixem para depois!

A hora é agora e o momento é já!

Boa sorte a todos,

Com todo meu amor e carinho.