BRASIL: COMO SERÁ O AMANHÃ? RESPONDA QUEM SOUBER...




Um homem se humilha se castram seu sonho / Seu sonho é sua vida e vida é trabalho / E sem o seu trabalho o homem não tem honra. E sem a sua honra se morre, se mata.
(Gonzaguinha- Um Homem Também Chora - Guerreiro Menino)


O Brasil que vem se configurando pós golpe do impeachment da Presidente Dilma me preocupa de modo avassalador. Os rumos que as doutrinas econômicas neoliberais (ou apenas liberais, como preferem alguns) estão impondo ao Brasil e ao mundo deixam-me temerosa acerca do futuro de toda a humanidade, particularmente o da parcela mais fragilizada que vive à margem das conquistas do mundo moderno.

Fonte: http://i57.tinypic.com/wjcax2.jpg (Acesso em 09 abr. 2017)

O nosso país vive uma crise moral profunda. No entanto, alguma coisa vem mudando nesse sentido. Não que eu veja, nesse momento, um verdadeiro e amplo combate à corrupção. Infelizmente a parcialidade da nossa justiça e o apoio de parte importante da grande mídia aos corruptos que tomaram o poder, podem nos fazer perder a maior chance  que já tivemos de diminuir, de modo significativo, esse tumor maligno que nos consome, quando se mostra partidária e disposta a minimizar os erros dos seus protegidos. 

Mas não há como desconsiderar que, pelo menos dessa vez, foram jogadas luzes nos porões da política nacional e nas relações espúrias entre a classe política e as grande empresas privadas e estatais do país, expondo os nossos algozes, dando-nos a oportunidade de identifica-los. É pouco. Precisamos de muito mais do que apenas identifica-los. Eles precisam responder pelas perdas de vidas brasileiras sucumbidas pelos serviços mal prestados pelo Estado e pelos desvios bilionários dos nossos impostos e devolvê-los aos verdadeiros donos.

Fonte: https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/b0/96/6f/b0966f113773660965e7aab626c733e3.jpg (Acesso 09 abr. 2017) 

Além da corrupção, outro tema me preocupa ainda mais e, sob o meu ponto de vista, é tão nefasto quanto: a onda liberalizante que abraçou o mundo desde a queda do Muro de Berlim.

Não sou adepta do sistema socialista, tal como foi implementado na URSS, China, Cuba ou na Europa Oriental. Não sou contra privatizações de estatais que, no caso brasileiro, funcionaram, ao longo de décadas, como cabides de emprego. Não sou a favor de um Estado exclusivamente paternalista que concede benefícios mil à sua população sem exigir contrapartidas. É da natureza humana se acomodar, quando não é submetida a desafios e a exigência de esforços para a manutenção dos benefícios concedidos. Mas sou amplamente favorável ao Estado do Bem-Estar Social. Afinal, não é pra isso que sevem os governos? Para trabalhar pelo bem das pessoas?

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiaykTieBle9FKi-WVaINwhXPWJUOZyW71mFVTnrYy__T1euQ2YX1IgD51p2U_cWylT4DgdLGfyry4LTsCDtjGnjH9LVI48biv4hYDeCu02GUsIblpSjgiYlx3S6g3UYW2A9dTvwsUrk0/s1600/crise-do-socialismo-contexto-historico-programas-e-governo.jpg (acesso 09 abr. 2017)

Por ler muito, estudar e escrever sobre a história da URSS e da atual Federação Russa, não poderia defender a ideia socialista e/ou a sua aplicação aos moldes do que foi feito naquele país. Conheço as nuances e efeitos do chamado "poder e ditadura do proletariado" e, por isso, não há como defendê-los. Não é admissível defender ditaduras, sejam as impostas pela direita, pela esquerda ou por quem quer que seja. Sei que muitos usam desses argumentos para justificar o enfraquecimento do modelo socialista. E têm razão. Pois esse foi um dos pilares de sua derrocada. 

O que me assusta, de verdade, é ver um grupo de pessoas defenderem a mínima participação dos governos na vida das pessoas. Não. Eu não quero um governo dono de restaurantes, siderúrgicas, automobilísticas, etc., como foi na URSS ou em Cuba. Mas quero um governo que faça o trabalho que lhe cabe de cuidar das pessoas!

É fato que o modelo socialista ditatorial não foi bem sucedido em vários aspectos e foi responsável por milhões de mortes mundo afora. Mas o capitalismo também não se mostrou um sucesso no que se refere à melhoria da qualidade de vida da população e vem, com suas políticas excludentes, matando milhões de seres humanos todos os dias. Se o socialismo não deu certo, o capitalismo também não deu. 

Eu penso que TUDO no mundo deveria estar a serviço das pessoas. De TODAS as pessoas, principalmente das mais fragilizadas. Interessante é que, todas as vezes em que discuti esse tema com os defensores do Estado mínimo, elas ignoram esse argumento. Ignoram solenemente quando eu digo que os governos foram criados, exatamente para organizar os espaços de acordo com os interesses das pessoas. Não de algumas pessoas, mas de TODAS, indistintamente.

Sei que você que me lê e que defende o livre mercado e a retirada das proteções aos trabalhadores, por exemplo, já deve estar pensando: lá vem mais uma achando que o povo não é capaz de construir seu próprio destino. E eu realmente acho que a classe trabalhadora, assalariada, que forma a base da pirâmide precisa da tutela do Estado. Aliás, ela paga por isso e paga muito caro. Merece ter o retorno do que investe todos os dias em dinheiro, suor e sacrifícios para manter o sistema funcionando. Portanto, nada mais justo que o sistema o proteja. Ele é devedor nesse quesito.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdUubd5rpo4W3uxn81Fy2-doEyf5JUKp-Zg3StRLE56U9KZhr7hkHLp8bep8BsPxh5Bx-wJzxy3EyJoueP-_sL25RMhyIeCH_6HyJluW6C3-Ubya-sh5IwWrNKPovTWWrPZ0U3oqXYedY/s1600/o-estado-e-a-mao-que-arrecada-impostos.jpg (acesso 02 fev. 2017)

Tomo como exemplo o caso brasileiro.

No governo de Itamar Franco foi criado o Plano Real que eliminou a inflação que penalizava a todos. Isso foi muito bom.

Ao ser eleito, o governo FHC fez os chamados "ajustes" econômicos neoliberais para, segundo os economistas e boa parte dos jornalistas da época, colocar a economia brasileira nos trilhos. Reconheço que houve melhorias na macroeconomia durante esse período.

Algumas privatizações foram bem sucedidas. (Sem querer entrar no mérito do processo de privatização e nos desvios do dinheiro das mesmas que, qualquer pessoa mais bem informada reconhece). Não há como negar as melhorias alcançadas em muitos setores.

Bom, mas em função desses "ajustes", o desemprego cresceu vertiginosamente. Eu me assustava, naquela época, com a euforia de alguns com legado de sofrimento que o neoliberalismo impunha a todos nós, trabalhadores. Uma vez ouvi um debate no qual um desses economistas, ao ser questionado sobre o desemprego, afirmou: "são os efeitos colaterais do ajuste. Não há como fazê-los sem algum dano"!

Fonte: http://th23.st.depositphotos.com/3662505/7528/i/450/depositphotos_75285883-stock-photo-unemployed-man.jpg (acesso 23 dez 2016)


Nessa época eu vivia o desemprego dentro de minha casa. Fiquei assombrada com a insensibilidade. Estavam falando de mim! Aquilo era a minha vida e a vida de tantas outras famílias! Naquele momento eu e a possibilidade de ver meus filhos passarem fome, não éramos nada mais, nada menos que um número. Uma estatística. Um "efeito colateral".

Quando a TV mostrava o aumento dos camelôs nas ruas, famílias vivendo nas ruas em busca da sobrevivência, outras vivendo do lixo e querendo encontrar qualquer forma de ganhar o pão de cada dia. Eram seres humanos em busca de empregos para ganhar o que fosse possível, abrindo mão do justo.

Talvez eu seja uma grande ingênua, mas não consigo compreender como a macroeconomia pode ser mais importante que as pessoas. Como a estatística pode ser tão friamente analisada. Por trás daqueles indicadores de desemprego há um pai ou mãe de família, sejam eles de 2% ou de 30%! Não importa!

Aliás, eu gostaria que os Domingos Meirelles, Armínios Fraga e demais defensores de suas teorias, baseadas na premissa “é preciso esperar o bolo crescer para dividir” me respondessem, com toda a sinceridade do mundo a questão que me mais me incomoda:

- O que fazemos com os desempregados, os que foram expulsos pela extinção dos programas sociais enquanto o bolo não cresce? Manda matar? Coloca num navio e manda como refugiado para outro país? Simplesmente ignora e espera que eles morram sem incomodar muito as classes mais altas, de preferência nas periferias da cidade para não atrapalhar o trânsito? O que será que eles sugerem nesses casos?

- Agiriam do mesmo modo se seus filhos, irmãos, pessoas amadas estivessem submetidos à essas regras de “negociação independente” patrões X empregados; manutenção de empregos desde que se aceitem propostas de redução salarial?

É claro que eu sei que eles e a maioria dos que compartilham de suas ideias, não vivem esses problemas. Aliás, essa gente e os que os defendem, na maior parte dos casos, não fazem a mínima ideia do que seja o Brasil real que encontramos pelas ruas do país. Mas eles podiam ter alguma empatia, não é mesmo? É assim tão difícil se colocar no lugar do outro? Que tipo de ser humano é esse?

Estarrece-me ver o rumo que vamos dando ao mundo dito "moderno". Tudo que importa é controlar a inflação, custe o que custar em empregos, investimentos, sofrimento, etc.. Eu sei que a inflação penaliza todos, especialmente os mais pobres, mas eu asseguro que o desemprego causa muito, mas muito mais sofrimento. Especialmente quando se tem filhos envolvidos.

Fonte: http://www.cefuria.org.br/files/2016/08/Grito-dos-Exclu%C3%ADdos-2016-C%C3%B3pia-2-1.jpg (acesso 10 jan. 2017)

Sei que no mundo pós queda do Muro de Berlim, e no Brasil pós golpe do impeachment importa que o mercado seja livre, ainda que as empresas soneguem impostos e neguem aos seus trabalhadores seguranças mínimas e direitos adquiridos, como o pagamento de horas-extras, reajustes salariais justos, entre outros. Afinal, as empresas devem ser lucrativas. Têm direito ao máximo lucro com o mínimo de responsabilidade social.

É claro que o lucro é vital. Tem que existir! Mas o que impede que lucro e amparo ao trabalhador possam coexistir? 
Temo que essa liberdade ampla, geral e irrestrita dada ao mercado pelos liberais traga ainda mais exploração e sofrimento para os trabalhadores que andam sendo massacrados, em muitas de nossas empresas. Não a toa que se vê um significativo aumento dos quadros de depressão e de doenças funcionais.

Claro que desejo um país e um mundo melhor para todos. Mas, sinceramente, não consigo imaginar que isso seja possível enquanto o BEM-ESTAR DOS SERES HUMANOS não for prioridade absoluta. O mundo é feito de pessoas e deveria ser feito para as pessoas. Precisamos mudar essa ordem. Disso depende a não extinção da nossa espécie.

Em minha modesta opinião, enquanto priorizarmos a macroeconomia, condenaremos a maior parte da humanidade ao sofrimento desnecessário.

Hoje, ouvindo um dos meus ídolos, o Gonzaguinha, pensei muito na atualidade da letra dessa música que deixo aqui para refletirmos e nos animarmos para lutar por novos e melhores tempos.

De minha parte, fica a esperança de que a nossa luta não seja em vão.

E vamos à luta!




Comentários

  1. Admiro o que te move ao tecer longos comentários e reflexões. Gostaria de estar com a mesma disposição, não diria indignação porque creio que sentimos a mesma coisa. O seu texto é correto, expressa a sua persona moral e política. Não tenho respostas, amiga. Agora entendo o silêncio dos mais velhos. Não o silencio acomodado e conformista, mas o silêncio como último estágio antes que o copo exploda e o fel vaze

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    1. Não quero desistir, amiga. Não posso. Tenho dois filhos entrando na fase adulta. Já não é por mim. É por eles que ainda tento, Salete querida. Preciso gritar por eles enquanto não calam a minha voz.
      Bjos. Obrigadíssima pela força de sempre.

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  2. Minha querida ex professora e agora amiga, fica difícil avaliar a situação do nosso país no quesito pessoas, pois cada vez mais somos postos de lado e justamente por aqueles que bateram no peito e disseram que iriam nos representar. É triste ver que nós somos apenas números e não seres, quero acreditar que tudo que está acontecendo é para algo muito bom que estar por vir, mas acho mais fácil acreditar na chegada dos et's para mudança de um todo. Que Deus nos abençoe e ilumine a cabeça daqueles que estão no poder.

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    1. Essa é uma das partes mais tristes desses nossos tempos a meu ver: somos apenas estatísticas. Ainda teimo em exigir que mudemos essa realidade. Merecemos.
      Agradeço demais a sua visita. Infelizmente não consegui identifica-lo(a) porque não tenho seu nome no comentário. Fico muito honrada em receber nessa página um (a) ex aluno(a). Fui abençoada com a qualidade dos jovens que passaram por mim: 99% formada por gente da melhor qualidade. Isso só reforça em mim a convicção de ter escolhido a profissão certa. Eu era feliz e sabia. Obrigada

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  3. Silvinha parabéns por mais este excelente texto! Acho que os rumos que este país está tomando não é dos melhores. Não gosto de ser pessimista, mas acho muito difícil nossa situação. Acho que a política devia servir ao país e a nós que elegemos aquelas pessoas que estão lá, porém, a classe política resolveu nos dar uma banana e mostrar que se tiver que nos sacrificar pra fazer valer seus desejos pessoais assim será. Muito triste ver que cada decisão desse governo golpista é uma punhalada em nós, mas acho tbm a posição de aceitação do brasileiro diante do que está aí mais decepcionante do que as medidas desta classe política que pouco se importa conosco. Fico pensando, será que a apatia do brasileiro é pq ele perdeu a esperança ou ele realmente concorda com o que está aí? Tanta coisa errada e a parece que a vida segue como se nós não estivéssemos sendo mandados para o sacrifício. Quem foi pras ruas pra colocar esses abutres está literalmente se fingindo de morto, ignorando totalmente as poucas manifestações contrárias a este governo nas redes sociais. Eu fico estarrecida mais com o povo brasileiro do que com o governo, pq esperar o quê de uma classe política suja e corrupta que se reúne pra dar um golpe? Espero que de alguma forma as coisas melhorem pra nós, que as pessoas acordem desta anestesia geral que nos aplicaram, e se de tudo a gente não acordar que venha uma intervenção divina pq estamos precisando de uma saída de emergência. Bjs. Obrigada por sempre nos presentear e nos fazer pensar.

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    1. Não há como discordar de você minha irmã. Mas eu ainda tenho esperança. Como disse à Roní, de minha parte, estou contando com a aceleração do processo de transição planetária. Única chance para a humanidade de luz e do bem!
      Obrigada pela visita e pela força de sempre.

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