BRASILEIROS, ESSA ENTIDADE SEM ROSTO!
A pergunta que mais se ouve no país pós-golpe de 2016, no qual o governo ilegítimo exercido pelo consórcio PMDB/PSDB/DEM faz e desfaz com o país e com nossos direitos é:
- Será que NINGUÉM vai reagir?
Mais comum ainda é ouvir o comentário que segue a pergunta:
- Ah... O “brasileiro” é assim, não reage. É apático. Sempre foi.
Aí eu me pergunto:
- Quem é essa “entidade” que chamamos de “brasileiro”?
E tenho me feito esse questionamento há algum tempo e, confesso rabugenta, que isso é algo que me irrita cada vez mais, à medida que eu envelheço. É que eu me pego refletindo numa questão que, para mim, Sílvia, é fundamental: para nós, o “brasileiro” é sempre o outro. É uma criatura desconhecida que, ora é vista como um ser superior aos demais humanos; ora é o vira-latas de sempre.
Esse modo de ver e se referir a essa entidade “brasileira” não escolhe classe social, credo ou etnia. Angélica Huck, numa chamada de seu programa no canal Viva, diz em tom de samba-enredo-exaltação: “vê, como o “brasileiro” é criativo, gente”! Aqui em BH um renomado jornalista mineiro sempre diz em seus comentários, “quando digo que o brasileiro é acomodado, eu me incluo nisso”; como quem faz uma generosa concessão a essa “raça” invisível de gente, inserindo-se no grupo. Isso me irrita, sabe? Então me pego resmungando como qualquer velha ranzinza: ora, e por que ele não se incluiria, se nasceu aqui em Pindorama, my God?
Eu posso estar enganada e talvez tudo seja fruto de uma mente que segue em direção à senilidade, mas isso me diz muito sobre nós. O problema, a MEU ver, é que não nos sentimos brasileiros, no sentido de nação, de gente que se sabe parte de um todo. Por isso, sempre nos referimos aos compatriotas como se fossem entidades alheias, porque não nos sentimos pertencentes a essa terra ou a esse grupo humano. É como se nos assistíssemos sempre pela TV e fôssemos todos personagens de uma trama qualquer escrita por outra pessoa.
Na verdade, o último bastião que nos dava algum sentimento de pertencimento a essa nação foi, de algum modo, assassinado com sete gols, que atingiram nossos corações, desferidos certeiros pelos alemães, em pleno Mineirão! Justo na Copa do Mundo do Brasil! Fala sério... Baita sacanagem com esses que eram os “brasileiros com muito orgulho, com muito amor”, né não?
Essa de não nos inserirmos no grupo dos nascidos em terras tupiniquins, não novidade para mim. Ao longo de minha carreira como professora, sempre ouvi em sala de aula, coisas como:
- Se nós tivéssemos sido colonizados por outros povos, tudo seria diferente. Se fossem os ingleses, eles teriam feito um país melhor.
Antes de Lula pagar a dívida com o FMI, organismo que nos impunha duras regras por meio das famigeradas “cartas de intenções” (confesso, menos cruéis que as maldades de Temer e sua corja), que ajudavam a concentrar ainda mais a renda e empobrecer a população, era “normal” eu ouvir bobagens do tipo:
- Podíamos entregar a Amazônia para os Americanos e pagar a dívida com o FMI, fessora! Quem sabe assim o país não melhora e vira uma potência como a deles?
Isso só reforça a nossa dificuldade em nos identificarmos com esse país e ter aquele sentimento que vemos entre estadunidenses, alemães, iranianos, espanhóis, iraquianos... que se sentem responsáveis pela condução dos destinos de seus países.
E não adianta achar que o que nos falta é ostentar a bandeira nacional nas portas de nossa casa como fazem os norte-americanos. Não basta enrolar na bandeira e chorar ouvindo o hino nacional nas competições internacionais e quando se viaja ao exterior.
Quando uma pessoa se sente pertencente a um país e/ou região, ela luta pela melhoria não só do espaço físico, mas pelos que convivem naquele espaço. Sabe que o bem-estar de cada um vai garantir a segurança e o bem-estar de todos. Assim se faz uma nação que se respeita. E nós não temos respeito pelo Brasil.
Lembro-me de ver os iraquianos lutando pelo país, cansados de guerrear, mas sem entregar os pontos. E foi assim com a invasão dos EUA após o 11 de setembro de 2001. Mesmo sendo mais fracos e estando destroçados pelos anos de embargos econômicos, famintos, empobrecidos, lutaram e não entregaram o petróleo às forças europeias e estadunidenses.
Agora advinha se a entidade “brasileiro” já não entregou o Pré Sal aos estrangeiros sem dar um pio (apenas resmungos entre amigos e nas redes sociais)? Advinha se há, entre nós, pessoas lamentando a apatia do “brasileiro” com o desmanche do país e o entreguismo golpista?
No Brasil, nós, que deveríamos ser os guardiões do país, estamos sempre procurando um “salvador da pátria” para fazer o trabalho que NOS pertence. Entretanto, como não nos sentimos donos dessa terra, trazemos em nosso subconsciente que tudo aqui é de... NINGUÉM. Por isso, somos tão coniventes com a corrupção e com o vandalismo, por exemplo.
Quem de nós nunca ouviu perguntas do tipo:
- Diga-me se você também não pegaria a propina se estivesse no Congresso? Imagina se eu deixaria de me beneficiar da grana desviada para sustentar meus luxos. Qualquer um faria assim, você não?
Você pode até negar, mas eu posso apostar que, mesmo nas famílias mais honestas do país há pelo menos um membro que pensa desse jeito.
Atitudes como essas, a meu ver, estão contribuindo para nos manter alheios aos desmandos golpistas. As redes sociais estão cheias de provocações de brasileiros como eu e você, com questionamentos indignados do tipo:
-Os “brasileiros” não vão reagir?
- “Brasileiro” é mesmo muito otário, né não?
- “Brasileiros” são burros. Não assumem as rédeas do país.
Na verdade, estamos aguardando que aquela entidade sem rosto, sem CPF, sem endereço a que chamamos de “brasileiro” venha fazer a parte que lhe cabe. Como nós não nos incluímos no grupo, continuamos à espera do levante do "brasileiro" que vai nos salvar e reverter todas as maldades dos golpistas contra nós nos resgatando do fundo do poço em que nos encontramos.
Se Lula, o líder nas pesquisas de intenções de voto não puder ser candidato, ficaremos loucos e elegeremos o primeiro que vier com um discurso salvador, libertário, que possa nos redimir. Já tivemos um “caçador de marajás” (e deu no que deu, lembra?). Agora temos grande chance de escolher um “caçador de corruptos”. O importante é encontrar alguém que se mostre capaz de fazer a parte que nos cabe, ou seja, aquele “Salvador da pátria” maneiro e “apolítico” como os João Dória da vida!
Quer apostar? Eu quero apostar e já estou torcendo para perder essa aposta e ainda ser “obrigada” a comemorar o fato de que, dessa vez, com esse golpe de 2016, a lição foi aprendida! Tomara, não é?
Está difícil acreditar .... estou muito triste com o que tornamos . Que país é esse ? Quem somos?Tomara que possamos reverter está quadro....Tomara ....
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