DIREITA X ESQUERDA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO


Em nossos dias estamos vivenciando uma disputa selvagem entre as ideologias da direita e da esquerda. As agressões se multiplicam e o diálogo acaba se mantendo a margem, impedindo a troca de informações entre as partes.
Muitas vezes o que se vê é uma extrema ignorância sobre as bases socioeconômicas que sustentam cada uma dessas ideologias e, não raro, vemos indivíduos de ambos os lados, defendendo valores intrínsecos aos alicerçados pela doutrina de seu oponente, na certeza de que estão em consonância com a sua posição política esquerdista ou direitista.

Antes de tecer qualquer comentário sobre as alterações ocorridas nessas doutrinas em nossos dias, precisamos compreender a origem histórica de tais termos. Para isso, lanço mão da definição apresentada pelo excelente site politize, organizado por experts em assuntos dessa natureza:

“[...] Os termos “esquerda” e “direita” entraram no repertório político após a revolução francesa(1789). Entre 1789 e 1799 os parlamentos franceses eram organizados de forma que os representantes da aristocracia se sentavam à direita e os comuns à esquerda do orador. Os aristocratas defendiam os privilégios da aristocracia, da igreja e a sociedade de classes que existia no antigo regime, ou seja, eram conservadores no sentido de manter as estruturas sociais vigentes até então. Já os que se sentavam à esquerda representavam os interesses da burguesia, a classe que estava pagando a conta da aristocracia e da igreja, mas que até aquele momento não tinha poder político”.



Pois bem, o tempo passou e com ele a economia, a sociedade e a política mudaram. Novos eventos históricos impuseram transformações e adaptações aos conceitos de “direita e esquerda”.
Um desses eventos históricos foram as Revoluções Socialistas ocorridas na extinta União Soviética (1917), na China (1949), em Cuba (1959) e a implementação do sistema socialista na Europa Oriental, logo após o fim da segunda Guerra mundial (1945) e o estabelecimento da ordem bipolar que dividiu o mundo em dois polos: socialista – comandado pela URSS – e o capitalista – capitaneado pelos EUA.



Foi especialmente durante a vigência da Guerra Fria e da bipolaridade que os termos “direita e esquerda” passaram a ser vinculados a esses dois sistemas socioeconômicos: sendo a direita vinculada ao capitalismo e a esquerda ao socialismo. 

Como se sabe, o sistema capitalista é acometido por crises sucessivas. Sempre que uma forte crise o atinge, os gestores do mercado buscam alternativas para reergue-lo. Durante a crise da bolsa de NY em 1929, por exemplo, a alternativa utilizada para superá-la foi abandonar o liberalismo econômico em vigor até então e promover uma forte intervenção governamental na economia, por meio do programa governamental denominado New Deal, no qual o governo Rosevelt passou a controlar os preços e a produção das industrias e fazendas, o que resultou no controle da inflação e o acúmulo de estoques de produtos. O Plano também inseria investimentos em obras públicas, como a melhoria das estradas, ferrovias, energia elétrica, entre outros (uma espécie de PAC – Programa de Aceleração do Crescimento estadunidense). Desta forma a crise foi vencida, havendo uma diminuição significativa do desemprego. 

Essa intervenção governamental típica do socialismo foi amplamente utilizada durante a Guerra Fria, especialmente nos países capitalistas europeus que hoje são exemplos de desenvolvimento social e de democracia para o mundo. 

Ocorre que, com o fim da segunda guerra mundial, a Europa estava em frangalhos. Sendo assim, o socialismo em vigor na URSS, que ascendia como potência capaz de disputar o poder militar com os EUA, trazia uma ideologia muito mais atraente para a Europa empobrecida. Para evitar uma debandada de seus aliados para o socialismo, foram implementados, na Europa Ocidental – sob a influência dos EUA – foram criados os Welfare State, ou Estados do Bem-estar social que nada mais é do que o Estado assistencial que garante padrões mínimos de educação, saúde, habitação, renda e seguridade social a todos os seus cidadãos. Nesses países os impostos são elevados, mas os serviços oferecidos pelo governo são de qualidade. 
(http://www.todoestudo.com.br/wp-content/uploads/2015/03/eua-e-uniao-sovietica.jpg acesso 05/05/19)

Esse modelo econômico está sendo desmontado atualmente. Aí se pergunta: 

Por que algo que foi tão bem sucedido vem sofrendo mudanças tão radicais? 

O processo de desmanche tem inicio após a reestruturação do modelo socialista da ex. URSS, que pôs um fim à bipolaridade e a corrida armamentista, promovido por Mikhail Gorbachev, por meio da Perestroika (reestruturação econômica, que introduziu no socialismo russo mecanismos capitalistas como, por exemplo a menor intervenção estatal na economia, via privatizações de suas empresas) e da Glasnost (ou transparência, uma tentativa de redemocratização política do país). 

Valendo-se dessas transformações, os capitalistas passaram a adotar o seguinte discurso: o socialismo perdeu a Guerra Fria porque nada nele funciona. A partir dos anos 1990, o que se viu no mundo foi a adoção de políticas denominadas neoliberais. 

Essas políticas preveem a volta do não intervencionismo estatal na economia. De acordo com os neoliberais, o mercado deve ser livre para se autogerir e os governos devem privatizar tudo o que for possível e se manter apenas como um fiscal para que abusos não sejam cometidos. É nesse novo contexto que a ideologia direitista se fortalece e se impõem no mundo inteiro. Por isso, estamos testemunhando as manifestações dos europeus contra as reduções de salários de aposentadorias, a extinção de leis que asseguram direitos fundamentais dos trabalhadores e a erradicação de programas sociais que foram de suma importância para reduzir as desigualdades no tais países do Bem-estar social. 
Essas mudanças aliadas à corrupção e mal gerenciamento do sistema financeiro, colocaram a Europa numa crise grave. E é aí que, no mundo contemporâneo se trava a briga entre os defensores dos valores da direita e os defensores das bases esquerdistas. 
https://latuffcartoons.files.wordpress.com/2012/08/crise-economica-na-europa.gif

A direita entende que a pobreza pode ser combatida pela ampla liberdade do mercado – com a mínima participação do Estado (que deverá privatizar tudo o que estiver ao seu alcance). Segundo defensores da direita, só assim há o fortalecimento da economia gerando empregos e novos consumidores. 

A esquerda contemporânea não vê mais o Estado como o grande interventor e gestor econômico como vigorou nos países socialistas. China, a Rússia e a própria Cuba e a Europa do Leste confirmam essas mudanças de paradigma ideológico, já que inseriram mecanismos capitalistas em suas economias. Entretanto, para os esquerdistas, o capitalismo não se mostrou eficiente para dar oportunidades iguais para todos e, por isso, cabe ao estado cuidar para que os menos favorecidos possam se valer de parte dos impostos recolhidos pelo governo para evoluir socialmente. Seja pela via dos programas sociais, seja pela oferta de serviços públicos educacionais, de saúde, de infraestrutura (transportes, redes de água, esgoto, etc.). 

Obviamente o tema não se esgota aqui. Seria pretensão demais de minha parte. Fato é que, se o socialismo não foi capaz de trazer dar dignidade à humanidade, o capitalismo também não foi. O importante é saber que ainda há muito o que fazer e que uma via alternativa precisa ser colocada em prática. Os países nórdicos já comprovaram que é possível. Por que não tentar isso aqui nos trópicos?

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