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Mostrando postagens de 2022

MINHA VIDA NO IRAQUE, NOS TEMPOS DE SADDAM HUSSEIN - EPÍLOGO

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  EPÍLOGO Morar no Iraque foi uma das mais ricas experiências de vida que eu tive até hoje. Foi sofrido em muitos aspectos, pois, como já disse anteriormente, não é fácil viver num país em guerra. Não é fácil viver sob a energia da morte de milhares de jovens que jamais escolheriam matar e morrer por causas alheias, para manter as estruturas do poder, no qual alguns poucos se mantêm no topo, a custa do sangue de vítimas inocentes e muito, muito jovens.  No Iraque de Saddam, os meninos iam para combate aos 16 anos. Praticamente crianças.  Não à toa que sentíamos sempre uma energia pesada no ar. É a energia  da dor de pais, mães, filhos, amigos e amores que  morreram por causas que , em muitos casos, desconheciam. Pessoas que deixaram esse mundo antes de concretizarem seus sonhos mais simplórios como o de flertar com aquele primeiro amor, ir para a escola com amigos, comemorar um aniversário em família, ficar de bobeira ouvindo música num sábado de manhã... Visita de professores iraqui

MINHA VIDA NO IRAQUE NOS TEMPOS DE SADDAM HUSSEIN - CAPÍTULO 7

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Capítulo 7: a simpatia dos povos do Oriente Médio X a arrogância dos europeus gregos.   Trabalhar em outro país era, por si, um enorme desafio, mesmo considerando que o nosso trabalho visa atender aos anseios e necessidades de brasileiros, com o amparo e companheirismo de outros conterrâneos, como era no nosso caso, naquele Iraque dos anos 1980. O contrato de trabalho que assinei me obrigava a cumprir a carga horária de um ano letivo que, naquela época, contava com 180 dias de aulas. Assim sendo, tínhamos um recesso de 30 dias em julho e as férias no mês de janeiro. Claro que, trabalhando numa escola encravada em pleno oásis mesopotâmico, cercada por muros que transformavam aquele pequeno espaço num pedacinho de Brasil, com poucas opções de lazer e sempre convivendo com um limitado círculo de amigos com vínculos culturais, idiomáticos e identitários estreitos, tínhamos uma rotina que, por vezes, tornava-se enfadonha. Assim sendo, a escola era a vida da vila. Era naquele espaço

MINHA VIDA NO IRAQUE, NOS TEMPOS DE SADDAM HUSSEIN - CAPÍTULO 6

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    E O ÁRABE DESCOBRIU O “BARASIL”... E ENFIOU O PÉ NA JACA! - CAPÍTULO 6 Viver no Oriente Médio foi uma experiência riquíssima. Foram muitos aprendizados, tanto no campo profissional, quanto no quesito das relações interpessoais e na convivência com povos, culturas e valores muito diferentes dos meus. E isso vale para os estrangeiros que conheci naquele ano de 1987 e para os brasileiros de origens diversas, com os quais convivi por lá. Entretanto, viver num país em guerra não é fácil. Ainda que não víssemos a guerra de perto, não presenciássemos batalhas, explosões ou ameaças de ataques ao nosso acampamento, as energias da morte, do sofrimento de garotos impelidos a matar e morrer, antes mesmo de começarem a desfrutar de sua juventude, de mães e pais angustiados obrigados a enviarem seus filhos para a beira do precipício, sem qualquer possibilidade de protegê-los, recobriam de densas e pesadas sombras a atmosfera do país. E eram energias  devastadoras. Não era incomum sermos atingi

MINHA VIDA NO IRAQUE, NOS TEMPOS DE SADDAM HUSSEIN- CAPÍTULO 5

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  Capítulo 5:  No meio do caminho para Bagdá tinha uma prisão e os prisioneiros fomos nós! Alouí (blusa branca), Valéria (ao centro) e Alfredo no Portal de Ishtar, na Babilônia Em final de março e início de abril de 1987, houve um feriadão nacional no Iraque. Se não estou enganada, acho que era o início do Ramadã  daquele ano. O Ramadã é um período que marca um mês inteiro de jejum, orações e cerimônias religiosas. O respeito ao Ramadã é próprio da religião islâmica que tem por objetivo aproximar os seguidores do Profeta Mohamed (ou Maomé) ao Deus Alá e lembrá-los do sofrimento dos menos favorecidos e assim, incitá-los à prática também do Zakat. Traduzido de modo equivocado como “dar esmola”, o Zakat é uma espécie de “dízimo” pago anualmente (cerca de 2,5% dos ganhos de cada muçulmano), que será usado para ajudar os menos favorecidos daquela comunidade islâmica, a qual o fiel pertença. O Ramadã não tem uma data fixa, pois segue o Calendário Islâmico que é baseado no ciclo lunar