O "INCÔMODO" PROVOCADO PELOS IMIGRANTES DOS NOSSOS TEMPOS



Sentimentos diferentes nos tomam quando a TV joga em nossas salas as imagens dos refugiados vindos da Síria e do Iraque. Eles em busca de abrigo, oportunidades, ou uma simples chance para retirar sua família e a si mesmo das angustiantes e permanentes ameaças representadas pelas bombas que caem do céu como granizos incendiários. Bombas que, de acordo com fontes oficiais, têm como alvo os terroristas do Estado Islâmico que, por sua vez, respondem com mais bombas, violência extrema e terrorismo ao ditador sírio e seus aliados e, no meio da barbárie, fazem da população civil sua maior vítima, como sempre acontece nas guerras.

Sem perspectivas, o povo sírio só quer fugir da real possibilidade de ser torturado e decapitado pela insana fúria dos líderes do Estado Islâmico e seus asseclas e, logicamente, da pobreza que se instala em todo país que vive conflitos como esse, cujo governo não consegue mais governar.

Por outro lado, outra onda migratória de africanos em direção à Europa, se arrasta por décadas, mas não causa a mesma comoção aos que estão do lado de cá da telinha. É verdade, minha gente, são décadas e décadas de avalanche migratória africana. Basta lembrar que as barreiras impostas pelos espanhóis aos africanos que chegavam ao velho continente, por meio das cidades-enclaves espanholas de Ceuta e Melilla, localizadas no Marrocos, no noroeste da África, tornaram-se intransponíveis ainda no início dos anos 1990, logo após a adesão da Espanha à União Europeia, fato ocorrido em 1986.




Sendo assim, não há chance de os africanos escaparem da miséria, do abandono, das guerras intermináveis e da invisibilidade mundial de outro modo que não seja atravessando o Mediterrâneo. As imagens de embarcações precárias fornecidas pelos "empresários" dessa modalidade de "tráfico negreiro de nossa era", abarrotadas de negros de todas as idades, tampouco os sucessivos naufrágios e as mortes de africanos (sempre no atacadão) não nos comovem tanto quanto os caminhantes sírios que chegam à Europa com suas famílias trazendo, quando muito, uma mochila com aqueles pertences extremamente necessários, alguma esperança e muita vontade de viver, apesar de tudo.

Sim, eu sei. Estamos vivendo uma época em que se colocar no lugar do outro é algo quase impossível para a maioria das pessoas. Quem assim procede é visto como um fraco, um "sentimentalóide-delirante". Afinal, os novos tempos exigem pessoas arrojadas, com foco no futuro e no seu próprio desenvolvimento social e econômico. Mas para não dizer que não fazemos nada, em casos assim, a gente manda um dinheirinho para uma ONG qualquer e deixa que eles façam o trabalho por nós. Desse modo podemos ficar em paz com a nossa consciência, dormir o sono dos justos e nos liberar para perseguir nossas metas individuais de sucesso pessoal e profissional.

E mais uma vez eles morrem antes de chegar à praia e à sonhada Europa. As mortes de africanos se sucedem sem que o nosso coração se compadeça deles.
mediterraneo_s%C3%A3o_intoler%C3%A1veis/1123433 (acesso 20 set. 2015).


A questão é que, mesmo tendo duas importantíssimas avalanches migratórias ocorrendo no mundo contemporâneo, acabamos compartimentando esses seres humanos em categorias distintas. É fato que há grande diferença entre esses imigrantes: os sírios e iraquianos são brancos ou, para os padrões brasileiros, no máximo são "morenos quase brancos". Alguns chegam a ter olhos claros e, entre eles, muitos são fluentes em outros idiomas como o inglês, alemão e/ou francês. Têm uma aparência física que, digamos, não se adequa à pobreza. Mas há um "porém" nessa história: eles são, majoritariamente, islâmicos, o que para muitos (desde os atentados ao World Trade Center, em 2001), é sinônimo de terrorista (pelo menos em potencial) ou de fundamentalista religioso,

Já os imigrantes da África subsaariana e do chamado "Chifre da África" (onde se localizam a Somália e a Etiópia) além de serem, em boa parte, muçulmanos ou seguidores de religiões animistas, são negros. Aí não, né minha gente? Muçulmano branco ainda vá lá, faz-se um esforço para acolher uns aqui, outros ali... A União Europeia vem tentando encontrar soluções compartilhadas entre seus membros. Mas a maioria resiste em acolher os sírios

Mas e os negros? Convenhamos é demais para o consolidado racismo que reina entre a sociedade "moderna", né não? Além do mais, são muito mais pobres. Aí a gente junta a cor da pele com a miséria... Não vai dar pra aceitar! Sinceramente, é esforço demais imposto àqueles nossos sólidos preconceitos. Aqueles mesmos que até tentamos disfarçar em público e alimentamos na intimidade, já que é dele que vem aquela sensação prazerosa de que somos seres humanos de uma casta que não se mistura à essa gentalha e, por isso, estamos livres de sermos vítimas de situações parecidas. Não merecemos! Não está em nosso destino! Será mesmo?

O fato é que, até aqui nunca se viu os países da União Europeia se reunirem para buscar soluções, criar cotas para acolher os africanos ou, quem sabe, uma solução para ambas as avalanches migratórias, ou usar o poder da ONU para resolver os problemas que se sucedem nessas regiões. Mas parece que não há interesse em resolver ou, quem sabe, alguns outros – além dos traficantes de pessoas – estejam faturando alto com mais essa crise humanitária.

Esses pobres chegam esquálidos, quando conseguem transpor às barreiras migratórias, Eles mal falam o idioma do europeu que o colonizou, já que vêm de países onde o analfabetismo e a pobreza extrema são permanentemente realimentados pelos conflitos internos herdados do "maravilhoso" processo colonial europeu. Aquele mesmo no qual franceses, alemães, ingleses, espanhóis, portugueses, holandeses... solidários que foram, se esforçaram muito e tão somente, para ajudar aquelas almas africanas ignorantes do cristianismo e, de quebra, promover o desenvolvimento e modernização de seus países, sem qualquer outro interesse escuso, obviamente.


Imigrantes foram salvos num naufrágio ocorrido em 17 de abril de 2015. Desembarcados no porto siciliano de Trapani.
Fonte:
http://images-cdn.impresa.pt/expresso/imv-2-302-459-emigrantes-1250.jpg/original/mw-860 (acesso em 20 set. 2015).

Pois bem. Esses africanos que foram generosamente "ajudados" no passado, agora querem abocanhar parte da riqueza conquistada pelos europeus, só porque não conseguem resolver os conflitos em seus respectivos países?

Ah sim... Vão dizer que os europeus só estão no topo da cadeia produtiva (ou seria da cadeia alimentar?) porque se apropriaram das riquezas territoriais e exploraram a mão de obra baratíssima dessas colônias e que isso justifica a abertura da Europa, para esse bando de imigrantes "preguiçosos e incompetentes", incapazes de desenvolver os próprios países.

Ora, ora!!! Nada nesse mundo é de graça! A conta tem que ser paga e, convenhamos, o preço foi justo. Não se pode pretender alcançar a modernidade e o contato com uma cultura europeia, notadamente muito "superior", sem pagar o preço! E não há como adquirir produtos, ideias, modos de vida, costumes dos invejados, lindos, louros e cultos europeus, a preço de bugigangas chinesas ou paraguaias, não é mesmo?


Além do mais, que culpa têm os europeus se conseguiram multiplicar as riquezas retiradas de suas antigas colônias e, com elas, educar sua gente, construir e reconstruir países limpos, civilizados e impecavelmente organizados? Por que esses bandos de desocupados africanos não fazem o mesmo em seus países? Não têm tanta riqueza na África? Ora, façam-me o favor! Não venham emporcalhar a Europa, sujar suas praças centenárias, mudar sua paisagem urbana inserindo nela hordas de moradores de rua, cortiços e favelas!


Observados por policiais franceses, imigrantes aguardam a distribuição de comida por uma ONG local em Calais, porto na França usado para entrar no Reino Unido.

Fonte:
http://www.cartacapital.com.br/internacional/nos-acampamentos-improvisados-de-imigrantes-em-calais-4123.html/calais-franca-imigrantes/@@images/655c8461-a6d9-4aa6-a07c-e099c55218c8.jpeg (Acesso em 23 set. 2015)


E ainda corre-se o risco de escurecer a pele alva dos europeus com a miscigenação! Sabe como é não? Esse tal de amor é muito traiçoeiro. Vai que ele acha um jeito de juntar africanos e europeus como fez aqui no Brasil? Olha o risco! Os europeus vão ficar com cara de brasileiro! Tem sina pior? Se bem que, basta olhar para constatar que as novas gerações de brasileiros – fruto dessa intensa miscigenação – estão cada vez mais bonitas. Até que, nesse ponto, não seria assim tão mal... Nesse quesito e em muitos outros, como o enriquecimento cultural, por exemplo, ou a disponibilidade de mão de obra e de mercado consumidor, para uma região na qual o envelhecimento populacional vem ocorrendo de modo vertiginoso, não seria mal. Poderia dar um sopro a mais de vida ao velho continente. Mas o custo de "amorenar" Europa e forçar a convivência e a tolerância entre povos tão distintos parece superar qualquer tentativa de se avaliar outros lados da questão.



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RONALD REAGAN, FAMÍLIA BUSH, SADDAM HUSSEIN, A EQUIVOCADA "PRIMAVERA" ÁRABE E OS IMIGRANTES DO ORIENTE MÉDIO DO SÉCULO XXI.


Não se quer aqui hierarquizar a imigração dando mais importãncia a uma e menos à outra. São problemas graves que devem ser enfrentados com um mínimo de humanidade. Sudaneses, etíopes, somalis, sírios, iraquianos... não deveriam ser tratados de modo distinto, embora tenham causas distintas.

A questão migratória síria e iraquiana, por exemplo, tem origens e causas que, nem sempre estão à mostra.

Pode parecer exagero ou alucinação, mas podemos encontrar as causas da diáspora dos povos sírios e iraquianos que assistimos nessa primeira metade do século XXI, no governo de Ronald Reagan (1981 – 1989) e nos desastrosos governos dos Bush – tanto o do pai (1989 – 1993) quanto o do filho (2001 – 2009) para o mundo que temos hoje.


Fonte:
http://acervo.oglobo.globo.com/fotogalerias/revolucao-islamica-no-ira-9541025 (acesso em 23 set. 2015).

Como? Façamos uma breve retrospectiva histórica e nos reportemos às décadas finais do século XX e no início desse século.

Reagan foi um dos grandes apoiadores do ditador sanguinário Saddam Hussein, que governou o Iraque (1979 – 2003), com requintes de crueldade de fazer inveja a Hitler e seus seguidores. E esse apoio teve continuidade no governo de George Bush (o pai) até a invasão do Kuwait por Saddam, ocorrida de modo surpreendente em 2 de agosto de 1990. Enquanto atuava como um aliado bem mandado, que torrava as riquezas iraquianas com a malfadada guerra conta o Irã, Saddam era tratado como um líder modernizador do Oriente Médio. Afinal, ele não impunha ao seu povo um regime teocrático, aos moldes iranianos, implementado naquele país, após a Revolução Iraniana capitaneada pelo Aiatolá Khomeini.

Khomeini viveu mais de uma década no exílio e, ainda assim, conseguiu manter uma ferrenha oposição ao governo corrupto do Xá Reza Pahlavi (forte aliado das potências europeias e dos Estados Unidos). Com a volta de Khomeini do exílio, reverenciado pelo povo iraniano, o governo estadunidense se viu num imbróglio: teve sua embaixada invadida e viu os americanos sendo expulsos e perseguidos no Irã. As empresas norte-americanas foram nacionalizadas e o petróleo iraniano voltou ao controle governamental, perdido pela dinastia Pahlavi (precedida pelo pai Reza Xá Pahlavi entre 1925 e 1941, e não recuperado pelo filho que o sucedeu, Mohammad Reza Xá Pahlavi, entre 1941 e 1979). Essa humilhação vivida pelos norte-americanos foi forte, mas em tempos de Guerra Fria, uma resposta direta mais contundente era tratada de modo mais cuidadoso, a fim de evitar o embate direto entre EUA e URSS, que poderia significar o fim do planeta. Assim, a saída foi mesmo dar respaldo ao vizinho Saddam Hussein, tradicional inimigo dos iranianos.

Aiatolá Khomeini retorna ao Irã nos braços do povo.
Fonte:
http://oglobo.globo.com/economia/imagens-marcantes-da-historia-do-petroleo-4465250 (acesso em 24 set. 2015).

Em tempos de Guerra Fria, qual o melhor método para subjugar um inimigo, sem entrar diretamente numa guerra, evitando uma resposta da União Soviética e a deflagração de um conflito mundial imprevisível em seus efeitos?

Simples.

Fomentando uma guerra entre os dois países. Isso tem efeitos extraordinários para a manutenção da hegemonia dos países líderes mundiais:

1. mantem a indústria bélica das grandes potências em expansão,

2. aumenta a dependência do aliado (no caso, o Iraque) que precisará de recursos para vencer o conflito

3. muda o foco do inimigo Irã sobre os EUA e o impede de construir sua estabilidade política e econômica.

E nessa coisa de desestabilização de governos e países, os estadunidenses são bons, como afirmou mais de uma vez, em algumas de suas polêmicas entrevistas, o general norte-americano Wesley Clark (Comandante Supremo da Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN, durante a Guerra do Kosovo): "Só devemos usar a força em último caso. Cometemos erros, mas de modo geral, somos bons em desestabilizar governos sem precisar ir à guerra".


(https://www.yotube.com/watch?v=P7u_4hSkpO0 acesso em 04 de out. 2015). Foi assim que os Estados Unidos abriram os braços e os cofres para Saddam e o Iraque, apoiando de modo explícito os iraquianos e dando um tratamento especial ao seu ditador.

Obviamente, Saddam não se fez de rogado. Usou e abusou dos privilégios. Modernizou o Iraque. Bagdá se transformou numa cidade moderna, com aeroporto grande e confortável, viadutos, praças e jardins bem construídos. O país, mesmo em guerra, não parou de investir em infraestrutura construindo ferrovias e rodovias de primeira linha. Mas, como sempre acontece, a guerra contra o vizinho custou muito sofrimento ao povo comum, especialmente aos desafetos do ditador. Assim sendo, Saddam massacrou a maioria xiita do sul do país e exterminou os inimigos do seu regime. Deu um tratamento especialmente cruel à minoria curda que vive no norte do país, despejando sobre eles chuvas de bombas químicas que matam de modo doloroso e lento, mesmo que tais armas fossem, já naquela época, de uso proibido.


Uma mulher curda iraquiana visita o túmulo do seu parente, Omar Mustafa, que foi morto em um ataque de gás ordenado cabelo ex-ditador Hussein em 1988, para deter uma rebelião curda. Mais de 5.000 civis, a maioria mulheres e crianças, mortos em ataque químico hum executado Pela Força Aérea de Hussein. Safin Hamed / AFP.
Fonte:
http://noticias.bol.uol.com.br/fotos/imagens-do-dia/2014/03/16/ha-26-anos-saddam-hussein-ordenava-ataque-quimico-contra-civis-curdos.htm#fotoNav=3 (acesso em 24 set. 2015).

Mas, naquele momento, as grandes potências preferiram se "fingir de mortas" e ignoraram o ato. Ironicamente, esse foi um dos numerosos crimes contra civis (além do assassinato de 148 homens, predominantemente xiitas, na cidade iraquiana de Dujail em 1982) cometidos pelo ditador iraquiano, a ser usado como argumento pela acusação que o condenou à morte, por enforcamento, em 2006, após ser capturado sujo, sem dentes, escondido num buraco em 2003.


A essa altura, você pode estar se perguntando, mas onde entram os refugiados de 2015 nessa história?

Bom, então vamos lá.

Saddam era mais que um ditador. Era um sociopata com muito poder e dinheiro. Isso é tão devastador quanto uma bomba nuclear. Um sociopata com poder, dinheiro e apoio das maiores potências mundiais, só pode ter ambições desmedidas. E não foi diferente.

O Iraque estava endividado com a Guerra contra o vizinho. Devia ao Kuwait e, além disso, acalentava o sonho de unificar o "mundo árabe", no qual estariam unidos os países árabes do Oriente Médio e os do norte da África (obviamente comandados por um líder forte e apoiado pelas grandes potências... Hummm... Quem poderia ser? Quem se enquadraria nesse modelo?). Claro que Saddam se via como esse grande líder. E foi assim o presidente iraquiano cometeu seu maior erro. Resolveu invadir e tomar posse do território do seu vizinho do sul.



Segundo Saddam, ele só estava retomando um território que já foi do Iraque que tinha suas fronteiras divididas segundo interesses coloniais europeus (como ocorreu as demais fronteiras da região). O raciocínio do líder iraquiano passava por uma premissa interessante: se havia uma dívida com o Kuwait, com a invasão e anexação do território, a dívida seria extinta. Além disso, o Iraque diminuiria a diferença o coloca em segundo lugar na produção de petróleo na região, atras da Arábia Saudita.

Logicamente a invasão não ficou sem resposta. Saddam precisava ser retirado do Kuwait. Afinal, os interesses europeus e estadunidenses naquele país pequenino, mas abarrotado de petróleo são grandes. Sabe como é... É muita grana envolvida! Mas o fato é que, com o argumento de "salvar o povo kuwaitiano" das garras do ex. aliado e, agora tratado como "o carniceiro de Bagdá" os Estados Unidos se mobilizam e chamam seus aliados para a terefa. Afinal, o mundo "não podia" assistir aquela barbárie sem se posicionar...

O governo americano, que de bobo não tem nada, já havia sido informado pelo líder Mikhail Gorbatchev, da quase extinta União Soviética, (que deixou de existir em 1991), que os soviéticos tinham se cansado de "brincar" de Guerra Fria e daquela tal Corrida Armamentista.

Aí, o que fazem os Estados Unidos da América? Ora, ora... Se a União Soviética jogou à toalha, isso não significa que os Estados Unidos saíram vencedores da brincadeirinha? (Pelo menos essa foi a leitura que a maioria das pessoas fizeram naquele momento). Então era preciso mostrar ao mundo quem estaria no comando a partir de então.


Aí meu amigo, naqueles anos finais do século XX, as pessoas que não davam importância para o noticiário, perderam a oportunidade de ver um verdadeiro desfile de armas, aviões visíveis e "invisíveis" (que não são captados pelos radares), porta-aviões e de toda a força militar dos norte-americanos, construídas no período da Guerra Fria. Todos os dias os jornais mostravam os avanços das forças de coalizão formada pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Egito, Turquia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Omã, Síria, Paquistão, Bangladesh, Bahrain, Canadá, Marrocos, Austrália, Itália, Senegal, Níger, Espanha, Holanda, Bélgica, Argentina e Grécia.


Avião invisível aos radares levado ao Golfo para combater Saddam Hussein.


Fonte:
http://www.militarypower.com.br/frame4-armas28.htm (acesso em 24 set. 2015)
Foi declarada a Guerra contra o "carniceiro de Bagdá". Pela primeira vez uma guerra era transmitida ao vivo pela TV. Em tempo real víamos as bombas caindo em Bagdá, como se fosse um videogame. Como se elas não fossem encontrar e massacrar pessoas de verdade: homens, mulheres, crianças, famílias, namorados, avôs e avós, primos e colegas de escola... Tudo parecia uma grande "diversão"...

O governo Bush (pai), com o apoio dos sauditas, atacou o Iraque e sua capital impiedosamente, por meio da operação chamada "tempestade no deserto". Um deserto onde viviam pessoas de carne e osso...

Nos dias que se seguiram, víamos os estragos. Famílias destroçadas, pessoas mutiladas... O número de vítimas civis da Guerra do Golfo, classificadas como “efeito colateral” pelas Forças Armadas americanas, aumentavam a cada dia.

Os sauditas, ao permitirem que o exército estadunidense se posicionasse em seu território para atacar Saddam, se viram numa encruzilhada. A Arábia Saudita é a terra de Maomé. É o país onde o Profeta recebeu a mensagem de Alá que deu origem à religião islâmica. É o solo sagrado do Islã. Ao permitirem que os não islâmicos pisassem no país, para os fiéis muçulmanos, era a profanação consentida do solo sagrado. Isso não podia ser tolerado.

E os mais radicais demonstraram ao mundo o poder de sua indignação: sob a liderança de um milionário saudita, engenheiro – segundo alguns pesquisadores (formado em administração pública – de acordo com outros), filho de família tradicional que fez fortuna atuando no ramo da construção civil, surge Osama Bin Laden.

Bin Laden não perdoou a infâmia do seu povo, nem o desrespeito dos norte-americanos (segundo ele) ao pisar na terra do Profeta Maomé. E em nome de Alá, passou a orquestrar diversos ataques terroristas pelo mundo, sempre tendo como alvo principal os Estados Unidos, Israel e seus aliados, até chegar ao maior e mais grandioso dos ataques terroristas de todos os tempos: o ataque às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001.

Fonte:
http://www.aereo.jor.br/wp-content/uploads//2011/09/Just-before-the-second-airplane-crashes-to-the-World-Trade-Center-New-York-11-Sept-2001-2.jpg



Não toleraremos qualquer ataque ao nosso povo ou ao nosso Deus Alá, nem o desrespeito dos norte-americanos segundo ele) ao pisar na terra do Profeta
Fonte:
http://en.dailypakistan.com.pk/wp-content/uploads/2015/05/osma.jpg (acesso 09 out. 2015).
Sei. De 1990 até 2001 se passaram 11 anos. E os refugiados sírios nesse contexto, minha gente?

Pois bem. Até a invasão do Iraque, pelos Estados Unidos em março de 2003, o país vivia tempos difíceis. O embargo econômico imposto pela ONU empobreceu os iraquianos. A inflação explodiu e o país se desintegrou. Entretanto, até então, Saddam foi mantido no poder pelas potências europeias e pelos EUA. Não havia uma liderança forte como a do ex. ditador, capaz de manter o Iraque livre de um regime teocrático e as grandes potências – lideradas pelo então presidente estadunidense Bill Clinton – preferiram não arriscar a mudar o comandante do Iraque por temerem correr o risco de ver o país ser governado por lideranças religiosas, como ocorreu com o Irã.

Além disso, os três grupos principais do país, muçulmanos sunitas (minoritários, mas o mesmo de Saddam Hussein) os xiitas (maioria no país que foi perseguida pelo ditador e que, por isso, poderia partir para revanche) e a minoria curda do norte do país. Esses grupos jamais conseguiram se unir para conduzir os rumos do país, muito menos agora, com feridas abertas e expostas em todos eles e uma forte rejeição às ingerências dos Estados Unidos e seus aliados. Isso a galera não perdoa!

A invasão do Iraque trouxe mudanças significativas à geopolítica do Oriente Médio, entre as quais se destacam:

A retirada de Saddam Hussein do poder e seu posterior julgamento e execução expôs as fragilidades das alianças entre os grupos dominantes do país. Não houve a formação de um governo que personificasse uma liderança capaz de reorganizar o país. Ruim com Saddam? Vai lá ver agora como está!

Sem uma liderança interna forte e, sendo massacrados pelo que o povo da região considera um inimigo comum a todos, a saber, os Estados Unidos e seus aliados; a máxima vivida entre os islâmicos da região ganhou força. Diz ela: "eu e meu irmão contra o meu primo... Eu e meu primo contra o inimigo". Um exemplo: o Iraque sempre considerou como adversários regionais, além de Israel (que é visto como inimigo de todos os países islâmicos do Oriente Médio) a Síria e o Irã. Síria e Irã têm população predominantemente muçulmana, mas esses povos, ao verem o inimigo islâmico ser subjugado por um inimigo maior, no caso, os EUA e aliados, eles se juntam – ainda que sem a adesão ou posicionamento oficial dos governos – para combater o adversário maior.

Em maio de 2011, Bin Laden foi morto no Paquistão pelo exército norte-americano, e assim o grupo perde muito de sua força. Com a Al Qaeda enfraquecida pela prisão de seu líder maior Bin Laden, outros grupos terroristas se organizaram, tendo como o mais forte e violento o "estado Islâmico". O grupo surgiu na Síria, valendo-se dos movimentos libertários da mal sucedida e sufocada "primavera árabe" que fortaleceu os grupos opositores ao regime de Bashar Al Assad. Esse grupo se aproveitou da divisão entre sunitas e xiitas que recrudesceu ainda mais no Iraque, depois da queda de Saddam, para granjear adeptos para a sua causa.





Bashar Al Assad, presidente da Síria


A entrada dessas novas milícias e a formação de novos e, cada vez mais violentos grupos formados por fundamentalistas religiosos inseriu no conflito iraquiano e no sírio um novo componente: o terrorismo.

Iniciada em 2011, a guerra civil síria foi condenada pela Liga Árabe, ONU, União Europeia e Estados Unidos. Foram impostas sanções econômicas à Síria, mas, por parte desses países e organizações, não houve intervenção direta para acabar com a guerra.

Aqui cabe uma ressalva: o povo sírio, embora esteja sendo massacrado por grupos invasores e pelo próprio governo há anos, não foi alvo de nenhuma intervenção militar por parte das grandes potências, como ocorreu, por exemplo, na invasão de Saddam ao Kuwait, pelo menos até a entrada da Rússia no conflito, combatendo o EI, em outubro de 2015. Por que será? Não seriam os sírios dignos de socorro? Ocorre que a Síria não é um grande produtor de petróleo. O conflito só passou a incomodar o mundo, na medida em que uma das maiores ondas de refugiados desses nossos tempos começaram a chegar à Europa.


Novos elementos vêm sendo acrescentados ao conflito sírio. Em abril de 2018 o governo de Assad foi acusado de atacar a própria população com armas químicas. Em resposta os EUA, França e Reino Unido se reuniram para atacar bases sírias e centros de pesquisas em Damasco e Homs. A Rússia e Irã, aliados históricos  do governo de Assad prometeram revide. 
Não se sabe se esse revide virá em um ano em que os russos se preparam para uma Copa do Mundo de Futebol, que lhe dará a vitrine para exibir ao mundo suas potencialidades. Talvez algo seja feito após o evento, mas analistas políticos apostam em retaliações diplomáticas e comerciais. Tudo pode acontecer.

Agora, mais uma vez, o estrago está feito! E não dá para prever o desfecho de mais esse conflito do Oriente Médio. Uma coisa é fato: o que já era ruim na região, durante o tempo em que os EUA apoiaram Saddam e, principalmente, antes da invasão estadunidense ao Iraque em 2003, ficou muito pior. E o que é mais grave, sem perspectiva de paz duradoura, em médio e curto prazos.



















































Comentários

  1. A fala do General Wesley Clark "Só devemos usar a força em último caso. Cometemos erros, mas de modo geral, somos bons em desestabilizar governos sem precisar ir à guerra", é para mim a melhor definição do imperialismo americano e como somos todos reféns desse poder.
    A primavera árabe tão festejada pelo ocidente agora se transformou no outono da humanidade nas praias da Europa e os Estados Unidos se escondem em um silêncio covarde sobre sua cota de responsabilidade.

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    1. Obrigada pelo comentário tão lúcido e pertinente. Fico pensando se teremos chance, algum dia, de nos livrarmos dessas amarras. Às vezes, invejo muito países como o pequenino Butão, Brunei, Uruguai, entre outros que, não sendo ricos em recursos naturais ou outros atrativos que pudessem ser de interesse das grandes potências. São países onde a vida é mais modesta, mas as chances de paz me parecem mais reais. Acho cada vez mais perigoso uma nação se destacar entre as demais, seja por que motivo for. Concorda, amigo?

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