ONDE LULA ERROU. E ERROU FEIO...
Há tempos eu queria escrever sobre umas coisas que andam rondando a minha cabeça, desde a prisão do Lula naquele dia 07 de abril de 2018, em que vi a mobilização da multidão em torno dele.
Ali pensei: esse cara é a mais pura expressão do antagonismo: ou é venerado ou é odiado.
Claro que eu sei que houve um excelente trabalho das redes de TV, da mídia impressa e virtual na construção do odiado "monstro" chamado Lula. Sei disso. Mas ainda assim o cara conseguiu conquistar o amor e o respeito de milhões de brasileiros, como nenhum outro presidente desse país o fez nesses 522 anos de Brasil.
É fato também que, em nenhum outro momento de nossa história, um governo fez tanto por aquela parcela excluída do povo que só consegue alguma visibilidade em tempos eleitorais. É como dizem os políticos da turma do inominável: “pobre só serve pra votar” (palavras dele durante a campanha que o elegeu presidente em 2018).
Jovens formados com a ajuda do PROUNI e do FIES. Muitos são os primeiros com diploma universitário na família.
Também é fato, gostem ou não, que nunca o Brasil se viu tão próspero, confiante e feliz como nos governos de Lula. Qualquer pessoa, com um mínimo de honestidade, hombridade e memória, ainda que odeie o Lula com todas as forças de sua alma, terá que admitir. Ainda que tenham ocorrido escândalos de corrupção em seu governo (E ISSO NÃO DÁ PRA IGNORAR), foi um governo de prosperidade para ricos (vide os lucros dos bancos, das montadoras, do comércio em geral) e para os pobres que passaram a ter acesso à comida, às universidades, à casa própria e até às viagens de avião!
Convenhamos, foram tempos bem mais felizes que os que desfrutamos na atual conjuntura.
Tá. Mas até agora você só falou de acertos do Lula, onde ele errou? Você pode estar se perguntando.
E eu respondo:
Lula nasceu mal. Nasceu errado, no lugar errado, da mulher errada, na região errada...
Lula nasceu pobre. Não frequentou boas escolas. Se duvidar, nem deve saber usar os talheres direito. Ele usa o mesmo português do povão, come os "s" dos plurais, bebe cachaça e, provavelmente nem deve saber degustar um bom vinho e combiná-lo com o cardápio. Lula passou fome. Foi um retirante nordestino.
Sabe o que é um retirante nordestino?
É aquela gente que veio do nordeste num caminhão pau de arara, fugindo da fome, da sede, da miséria, da exploração dos coronéis para ser subempregado no “sul maravilha”.
Se Lula conheceu alguma fazenda em sua infância e juventude, pode saber que foi como empregadinho de quinta... Jamais foi um sinhozinho. É branco, mas sem a envergadura do sinhozinho da fazenda da família, como tantos herdeiros políticos que estão no Congresso Nacional ou governando estados e municípios desse brasilzão.
Esses são erros imperdoáveis de Lula e, por serem imperdoáveis, parte da sociedade brasileira, incluindo gente rica, gente da classe média e até mesmo alguns pobres não o absolvem de qualquer de seus erros. Sejam grandes ou pequenos.
Não dá pra perdoar um cara com essas origens que, ainda por cima, se atreveu a ser o maior mandatário desse país! Como esse ser tão socialmente inferior pôde mandar num país da dimensão do Brasil e ainda ser respeitadíssimo internacionalmente?
Essa parcela da sociedade jamais vai admitir que teve a vida melhorada em seu governo. É claro que um ser de origem tão inferior não teve essa capacidade de nos fazer melhores. Foi tudo obra do Senhor Deus que, não se sabe porque cargas d’água, só resolveu olhar pelo país enquanto ele foi Presidente da República. Além disso, teve a conjuntura internacional facilitando a vida dele, naquele período. É só isso!
Foi pura coincidência que as nossas preces para sair do aluguel, fazer uma universidade pública, comprar o primeiro carro 0km, viajar de avião pela 1ª vez na vida, etc. tenham sido ouvidas só depois que ele virou Presidente do Brasil.
E é lógico que não dá pra perdoar Lula pelos escândalos de corrupção de seu governo. Com essa origem inferior que ele traz consigo e faz questão de jogar na nossa cara o tempo todo, nos lembrando que é o filho da dona Lindu, não há a menor chance de perdão de nossa parte.
Se ele, pelo menos tivesse outro sobrenome, ou se viesse da classe média... Mas, além da origem miserável, o cara é um “da Silva”.
Fosse um sobrenome como “Neves”, “Cardoso”, “Calheiros”, “Gomes”, “Sarney”, “Lyra”, "Zema", “Mello”... daria pra fazer vistas grossas, mas não dá pra perdoar um “da Silva” que, além de tudo, é retirante nordestino! Isso não! É demais pra nós!
Não dá pra aceitar um “da Silva” como sendo gente capaz de fazer a diferença. Quem faz a diferença é rico. É intelectual. É gente de berço. Provavelmente nem um balaio onde dormir Lula teve, quando era bebê... Não! Não dá pra engolir Lula!
Talvez, se ele tivesse nascido em outro país... Quem sabe assim a mídia hegemônica não tivesse ignorado a lindeza que foi o acampamento “Lula Livre”, montado nas proximidades do prédio da Polícia Federal em Curitiba, que durou os 580 dias em que Lula esteve encarcerado. Era gente cuidando e acalentando o “da Silva”, dando-lhe bom dia e boa noite, para que ele não desanimasse, sabendo que uma parte do povo brasileiro estaria com ele, até a sua libertação e para sempre.
Talvez, se ele fosse de outro país, a mídia hegemônica não tivesse escondido do povo as visitas ilustres que ele recebeu do mundo inteiro, enquanto esteve preso. Nunca se viu isso em qualquer outro lugar desse planeta.
Lula, nos braços do povo, no dia de sua prisão.
Mas ali estava apenas um “da Silva”! Se pelo menos ele fosse da classe média, né? Lula não prestou sequer pra nascer bem e ter uma origem mais adequada ao nosso preconceito.
Tá você que me lê e que odeia o Lula pode até estar aí pensando:
- “Que mulher louca essa tal Sílvia Castro! Imagina se eu sou assim? Cobro honestidade, bom comportamento, competência de Lula, como o faço com os outros. Só porque não cito o nome dos “outros” não significa que não os queira honestos ou que também paguem por seus crimes. Além do mais, eu até tenho amigos pobres que vieram do nordeste! Tenho até amigo com sobrenome “da Silva”. Jamais tive preconceito com pobre e, muito menos com nordestino! E eu amo o nordeste e suas praias!”
E eu lhe digo que te entendo. Não é fácil admitir nossos preconceitos. Afinal, a gente sempre acha que estamos firmes no caminho da evolução moral, espiritual e humana. Costumamos nos ver como seres melhores do que realmente somos. Tenho pena, mas te entendo de verdade.
Aliás, você há de convir... Lula tem uma vantagem nessa história toda. Já pensou se, além de nordestino, pobre e filho da dona Lindu ele fosse preto?
Parabéns, pelo texto! Lamentavelmente não conseguimos nos libertar do tal complexo de vira latas como dizia Nelson Rodrigues e passamos todo o tempo tentando negar nossas origens, em lugar de nos orgulhamos dela.
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